sábado, 7 de março de 2009

Subsídios extras para a lição 10 - Uma Herança Conquistada pela Fé


O Tempo de Deus

Introdução

Sob a égide de Deus, Josué foi empreendendo, paulatinamente, a conquista da Terra Prometida (Js 10─11). O homem Calebe, um dos espias da primeira expedição que, ao lado de Josué, é um dos únicos remanescentes adultos que saiu do Egito e pôde entrar em Canaã (Nm 14.28-38), surge agora em cena após esperar quatro longas décadas para o cumprimento de uma promessa que lhe foi feita por Moisés (Js 14.9). Novamente podemos extrair grandes lições deste episódio.

O Homem Calebe

No primeiro ponto da lição, intitulado Calebe, um homem leal, consta algumas informações biográficas acerca desse importante personagem da história da peregrinação israelita. Como o tema parece ter gerado algumas dúvidas, é prudente que mais uma opinião abalizada do assunto seja ouvida:

Existem algumas dúvidas sobre a exata ascendência de Calebe. Em 1 Crônicas 2.18, está mencionado que Calebe era filho de Hezrom. Por outro lado, Jefoné, o quenezeu, é chamado pai de Calebe em Números 32.12. Os quenezeus, descendentes de Quenaz, parecem ter sido uma das tribos nômades dos desertos do Sinai (Gn 36.15). Foi em uma dessas tribos de edomitas que Moisés se casou (Jz 1.16; 4.11). A migração de Israel em direção ao norte atraiu alguns desses povos e eles se reuniram com fé, ao Senhor e ao seu povo. A família de Calebe foi anexada à tribo de Judá, e Calebe conquistou rapidamente uma posição de liderança. Embora o chefe da tribo fosse Naassom, filho de Aminadabe (Nm 2.3), foi Calebe que representou a tribo como espia e, mais tarde, como um daqueles que dividiu a terra em áreas tribais (Js 21.12). Está registrado que foi entregue a Calebe a sua parte “no meio dos filhos de Judá” (Js 15.13), implicando que ele não era realmente um membro daquela tribo. Séculos mais tarde, nos dias de Saul e Davi, os descendentes de Calebe ainda formavam uma família distinta em Judá, e sua parte do país parece ter sido um enclave na tribo (1 Sm 25.3; 30.14).1

Acredito que esta explicação apresentada seja bastante esclarecedora e suficiente para dirimir quaisquer dúvidas que possam surgir em sala. Particularmente, acredito que a aula não pode ter o pouco de seu tempo ocupado com este tipo de assunto, pois ele não é essencial na lição.

Calebe Tomou Posse?

É comum ouvirmos pregadores ensinar que é preciso que o crente “tome posse” de sua benção. Muitos o fazem como se ela estivesse presa nas mãos de Deus e, através da fé (que neste caso é uma espécie de “amuleto”), deve ser “liberada”. Esse comportamento tem tornado a igreja evangélica alvo de críticas e zombarias que, lamentavelmente, se justificam, pois esta postura é, para dizer o mínimo, questionável. Por outro lado, é cada vez mais crescente o número de “defensores da fé” que resolvem “atacar” este tipo de postura, não como um exercício legítimo e digno de toda a atenção e cuidado da Igreja, mas como forma de autopromoção. Percebo que a cada dia me torno mais inclinado a considerar a motivação por trás das ações. Já não basta dizer a verdade, mas o porquê de dizê-la tem sido cada vez mais importante para mim. Não sou a palmatória do mundo, mas inicio a sondagem pela minha própria vida e não deixo de prestar a atenção nas entrelinhas de quem ouço.

Calebe não “tomou posse” de nenhum território como fruto de impetração de palavras positivas ou mesmo “gritos de guerra”, como defendem os ufanistas evangélicos. Ele simplesmente solicitou a ocupação ─ depois de 45 anos ─ daquilo que lhe fora designado pelo Senhor, através de Moisés (Nm 14.24,26-28,39).

Diferentemente do que ensinam os sensacionalistas, Calebe recebeu esta herança não por ser merecedor, mas por ser fiel (Nm 14.24). Quando a primeira grande equipe expedicionária voltou da missão de sondar a terra, Calebe e Josué foram os únicos que apresentaram um relatório baseado na confiança em Deus:

Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, dentre os que haviam observado a terra, rasgaram as suas vestes e disseram a toda a comunidade dos israelitas: “A terra que percorremos em missão de reconhecimento é excelente. Se o Senhor se agradar de nós, ele nos fará entrar nessa terra, onde manam leite e mel, e a dará a nós. Somente não sejam rebeldes contra o Senhor. E não tenham medo do povo da terra, porque nós os devoraremos como se fossem pão. A proteção deles se foi, mas o Senhor está conosco. Não tenham medo deles!” (Nm 14.6-9, NVI).

Acredito que o servo de Deus não deva ser covarde ou agir por conveniência, pois este tipo de postura não é recomendada na Bíblia e constitui-se pecado diante de Deus (Jr 48.10; Tg 4.17; Hb 10.38). Existem cristãos que pensam que ser um crente humilde é o mesmo que ser omisso e relapso quanto a atitudes que exigem um posicionamento muito claro de nossa parte. Calebe sequer sabia que, devido sua fidelidade, teria parte na repartição das terras, por isso, percebe-se que ele agiu desprovido de “décimas intenções”. Como já disse, procuro sempre analisar a intenção. Muita gente, no lugar de Calebe, só diria o que ele disse se soubesse que tendo aquele comportamento seria beneficiada, e isso é agir de sórdida fé!

A Importância da Liderança

Não obstante Calebe ter sido escolhido como representante da tribo de Judá, ele não era, como já colocado acima, consangüineamente pertencente a ela. Isso prova, uma vez mais, que o homem de Deus, na maioria das ocasiões, não é um homem do povo. Mesmo sendo representante da grande tribo de Judá, Calebe não pensou em desobedecer a Deus para “ficar bem” com o povo. A Bíblia diz claramente que ele “fez o povo calar-se perante Moisés e disse: ‘Subamos e tomemos posse da terra. É certo que venceremos!’” (Nm 13.30).

As demais tribos, com exceção da de Judá e de Efraim, representadas pelos seus líderes, sucumbiram exatamente por causa da falsa percepção dos escolhidos, pois, infelizmente, os que não confiam em Deus, acabam vendo-se como insetos diante dos inimigos (Nm 13.33), tudo por não reconhecer que a batalha não era deles, mas de Deus.

Josué e Calebe foram ameaçados de apedrejamento por acreditarem em Deus e em seu poder (Nm 14.10). Isso demonstra que eram homens de coragem que não tinham suas vidas como mais importantes, e sim o fazer a vontade de Deus. É bem por isso que Ele os guardou e interveio no caso, não apenas salvando-os (Nm 14.10,11), mas também prometendo que eles teriam uma herança como recompensa de sua fidelidade (Nm 14.20-24).

Acometidos de uma praga misteriosa, os 10 espias que incitou a comunidade israelita, sucumbiram (Nm 14.36-38). Após presenciarem a reação do Eterno, o povo resolveu voltar atrás, mas, lamentavelmente era tarde demais (Nm 14.39-45). Moisés ainda os avisou: “Por que vocês estão desobedecendo à ordem do Senhor? Isso não terá sucesso! Não subam, porque o Senhor não está com vocês. Vocês serão derrotados pelos inimigos, pois os amalequitas e os cananeus os enfrentarão ali, e vocês cairão à espada. Visto que deixaram de seguir o Senhor, ele não estará com vocês” (Nm 14.41-43).

Mesmo com a advertência de Moisés, parte do povo foi ao encontro dos amalequitas e cananeus. Entretanto, como a vitória não vinha deles, mas do Senhor, eles sofreram fragorosa derrota e os que sobraram foram perseguidos. Pensando bem, nada incomum para quem passou 430 anos no Egito trabalhando para o Faraó. Isto é, Israel não tinha preparo para a guerra e, comparado a outros povos milenares já plenamente organizados, era apenas uma “criança”. É por isso que a confiança dele deveria estar no Senhor e não na lógica dos números ou de qualquer outra natureza.

O Tempo de Deus

É imperioso reconhecer que Josué não havia acabado de atravessar o Jordão quando Calebe o lembrou de sua parte territorial (Js 14.6-15). Cerca de cinco a seis anos já haviam se passado desde que o povo de Deus começara a empreender suas conquistas sobre a Terra Prometida. Isso só atesta a fidelidade de Calebe, pois mesmo sendo já um ancião, com certeza estava disposto a ajudar Josué a levar a efeito sua missão de conquistar. Algo muito diferente acontece nos dias atuais, onde a megalomania (a ambição desenfreada por liderar) faz com que muitos que acreditam que tem condições de liderar não respeitem a liderança de quem está sobre eles.

Ultimando esta reflexão, uma das dimensões que também não pode deixar de ser explorada, é que, mesmo sendo uma pessoa de destaque, Calebe não ficou criando confusão, insuflando pessoas contra Josué ou usando seu carisma e sua fama como instrumentos manipuladores. Ele aguardou sua oportunidade de ocupar o espaço territorial que lhe cabia, ou seja, esperou o kairos (καιρός), o tempo de Deus cumprir aquilo que lhe fora prometido (Js 14.6-15).

Apesar de reconhecer sua força e vigor (Js 14.10,11), Calebe, em demonstração de que os anos não arrefeceram sua fé, afirmou que, mesmo sabendo que a região requerida por ele era uma terra inóspita, de cidades-fortaleza habitadas por gigantes, ele estava ciente de que não seria a sua força o fator principal e a garantia de sua posse, mas como ele mesmo disse a Josué: “[...] se o Senhor estiver comigo, eu os expulsarei de lá, como ele prometeu” (Js 14.12, sem grifo no original). Calebe parece até reconhecer que, mesmo o Senhor tendo prometido, sua fidelidade, abnegação, amor e obediências tributados a Ele era o que iria determinar o cumprimento da promessa. Muitos se esquecem disso e acham que Deus, mesmo sendo eles infiéis e relapsos, deve cumprir integralmente o que lhes prometera.

Josué abençoou seu grande companheiro, e a possessão termina com um final feliz: “Então Josué abençoou Calebe, filho de Jefoné, e lhe deu Hebrom por herança. Por isso, até hoje, Hebrom pertence aos descendentes de Calebe, filho do quenezeu Jefoné, pois ele foi inteiramente fiel ao Senhor, o Deus de Israel. Hebrom era chamada Quiriate-Arba, em homenagem a Arba, o maior dos enaquins. E a terra teve descanso da guerra” (Js 14.13-15).

Não é bom esquecer que Josué, só após ter distribuído todos os pedaços de terra, separou o seu (Js 19.49,50, sem grifo no original). Afinal de contas, ele também era um dos que honrara o Senhor com sua atitude. Só que, diferentemente do que atualmente vemos, ele não legislou em causa própria e foi ético e fiel em relação ao povo que Deus o confiara como líder.

Fonte: Cpad

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