quarta-feira, 17 de outubro de 2012

“Como poderei entender, se alguém não me ensinar?”

Uma das mais belas narrativas bíblicas, ao meu ver, é a de Filipe e o eunuco, mordomo-mor da rainha Candace, conforme descrito em Atos 8. É um texto que fala de obediência, renúncia, chamado, amor... sobretudo amor.
Após a morte de Estevão, consentida por Saulo de Tarso, os cristãos foram dispersos. Dentre estes, Filipe desceu a Samaria e pregava a Cristo. As multidões deram crédito à mensagem de Filipe, os demônios eram expulsos, enfermos eram curados e havia grande alegria na cidade. Até mesmo a desvirtuada mensagem do mago Simão fora desacreditada e, com a chegada de Pedro e João, os novos convertidos receberam o batismo com o Espírito Santo. A alegria estabelecida na cidade de Samaria deve ter, realmente, enchido o coração de Filipe de satisfação, por ter sido usado por Deus para tão grande obra.
Mas, de acordo com o versículo 26 do capítulo 8 de Atos, o anjo do Senhor dá uma ordem a Filipe; que vá em direção a Gaza, para um caminho que estava deserto. Eu, particularmente, não entenderia o porque de me posicionar em um lugar deserto, uma vez que tinha acabado de sair de um tão grande movimento pentecostal em Samaria. É difícil sairmos da chamada “zona de conforto”, atendermos o chamado de Deus, principalmente quando é para algo pouco compreensível, especificamente quando é para um “lugar deserto”.
Deserto nos dá a ideia de solidão, seca, dificuldades, falta de calor humano, medo, fome, tristeza... A perspectiva de sair de um lugar de multidões para um lugar assim é desagradável, mas é preciso renunciar, obedecer a voz de Deus. É difícil as vezes fazermos algo sem entender, como que enchendo talhas de água quando na verdade precisamos de vinho. Mas é preciso obedecer e cumprir o ide.
De repente, já posicionado no deserto, Filipe vê chegando o eunuco lendo o profeta Isaías e tudo começa a ficar claro. Imediatamente o Espírito Santo o manda se aproximar, e o servo de Deus mais uma vez obedece. O senhor opera grandiosamente, os dois começam a conversar e Filipe evangeliza o eunuco. A mensagem chega tão profundamente ao seu coração que, vendo ao pé de alguma água, o moço, cheio de sede de Deus, pede pelo batismo. Valeu a pena ser obediente a Deus. Uma alma foi salva, o céu está em festa!
Filipe foi arrebatado e o deserto de luta, sofrimento, dúvidas, dificuldades, solidão acabou. Eu entendo, ao meditar nesta linda história, que às vezes o Senhor nos conduz a situações incompreensíveis para que possamos fazer a Sua obra. Alguém no deserto precisa que o crente pregue o Evangelho, e Deus faz de tudo para salvar uma alma. Alguém precisa encher as talhas de água para que Jesus a transforme em vinho. O mundo está sedento de Deus, os “evangelhos” de auto-ajuda estão crescendo, a verdadeira mensagem está sendo desvirtuada por muitos e o povo está repetindo a frase daquele homem: “Como poderei entender, se alguém não me ensinar?” Buscam a Deus, mas buscam de qualquer maneira, e não poderão compreender a verdadeira mensagem se os Filipes dos últimos dias não estiverem dispostos a ensinar-lhes, mesmo que para isso sofram dificuldades.
Se obedecermos, renunciarmos, atendermos o chamado e amarmos as almas, não importa se em Samaria ou no deserto, estaremos cumprindo o ide de Jesus e Ele certamente suprirá todas as nossas necessidades.

"Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado"(2Co 12.15)

Pb. Francisco Brito