segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Orissa - Prisioneiros em sua própria terra


O relatório abaixo foi feito por um colaborador da Portas Abertas que visitou Orissa em abril de 2009.

“Uma quantidade variada de tendas agrupa-se do lado de fora da aldeia de Rudangia, nas colinas do Estado de Orissa. Algumas palavras trocadas com os soldados armados na entrada do acampamento nos permitem fazer uma visita curta.

Dirigimos por três horas e meia em uma estrada esburacada pela zona rural para chegar à fronteira de onde ocorreu o pior caso de limpeza religiosa da Índia, nos meses de agosto e setembro de 2008.

Entramos em uma pequena choupana e, enquanto nos sentávamos no chão, fomos rodeados pelos habitantes do local.

Um jovem contou a história da vila. Eles sabiam da violência nas redondezas, e organizaram vigias para avisar o vilarejo caso agressores se aproximassem. Mas ninguém conseguiu resistir quando os extremistas chegaram.

Na noite de 29 de setembro, os vigias contaram 300 tochas descendo à vila, em todas as direções. O vilarejo foi cercado, todas as chances de escapar se tornaram impossíveis. Em 30 minutos, 74 casas foram incendiadas. Tudo ficou escuro, esfumaçado e caótico. Os extremistas chegaram com pistolas, machados, facões e outras armas brancas, enquanto os aldeões tinham apenas pedaços de pau para se defenderem.

Nosso jovem intérprete nos disse que, durante a confusão, ele foi abordado por hindus que lhe perguntaram: ‘Então, quem vamos matar agora?’. Uma mulher morreu e12 pessoas foram hospitalizadas – uma delas tinha 17 projéteis no corpo.

As 230 famílias de Rudangia estão entre os 50 mil cristãos indianos que perderam suas casas durante a violência orquestrada por ativistas hindutva. A onda de ataques começou depois da morte de um líder hindu, assassinado por maoístas.

Enquanto as notas oficiais afirmam outros números, os cristãos indianos relatam que mais de 500 pessoas morreram, e milhares de igrejas foram queimadas. Hoje, os sobreviventes reúnem-se às centenas em acampamentos por toda a região.

O que torna Rudangia um lugar especial é que a comunidade cristã se recusou a ser mandada para os campos de refugiados distantes de sua terra. Eles insistiram em fazer seu próprio acampamento, perto de sua vila.

A vida espiritual é palpável aqui. As três comunidades cristãs existentes decidiram se unir e cultuar a Deus na única igreja cujo telhado ainda está de pé. A perseguição acabou por unir os cristãos.

Formos levados à igreja onde havia um culto em andamento, com mulheres e crianças sentadas de um lado e homens do outro. Muitos têm Bíblias. Eles se sentam no chão e ouvem o pregador. Apesar da alegria durante o culto, ainda há o desespero de se encontrar em uma situação sem saída. Essas pessoas são prisioneiras em sua própria terra.

Um homem aponta para os limites de uma vila hindu, próxima dali. ‘Olhe, essa é a nossa fronteira, como a fronteira entre o Paquistão e a Índia’, ele diz. Compreendi a ilustração: duas comunidades em confronto, carregadas de suspeitas.”

Fonte: Portas Abertas

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