Uma das mais belas
narrativas bíblicas, ao meu ver, é a de Filipe e o eunuco,
mordomo-mor da rainha Candace, conforme descrito em Atos 8. É um
texto que fala de obediência, renúncia, chamado, amor... sobretudo
amor.
Após a morte de
Estevão, consentida por Saulo de Tarso, os cristãos foram
dispersos. Dentre estes, Filipe desceu a Samaria e pregava a Cristo.
As multidões deram crédito à mensagem de Filipe, os demônios eram
expulsos, enfermos eram curados e havia grande alegria na cidade. Até
mesmo a desvirtuada mensagem do mago Simão fora desacreditada e, com
a chegada de Pedro e João, os novos convertidos receberam o batismo
com o Espírito Santo. A alegria estabelecida na cidade de Samaria
deve ter, realmente, enchido o coração de Filipe de satisfação,
por ter sido usado por Deus para tão grande obra.
Mas, de acordo com o
versículo 26 do capítulo 8 de Atos, o anjo do Senhor dá uma ordem
a Filipe; que vá em direção a Gaza, para um caminho que estava
deserto. Eu, particularmente, não entenderia o porque de me
posicionar em um lugar deserto, uma vez que tinha acabado de sair de
um tão grande movimento pentecostal em Samaria. É difícil sairmos
da chamada “zona de conforto”, atendermos o chamado de Deus,
principalmente quando é para algo pouco compreensível,
especificamente quando é para um “lugar deserto”.
Deserto nos dá a ideia
de solidão, seca, dificuldades, falta de calor humano, medo, fome,
tristeza... A perspectiva de sair de um lugar de multidões para um
lugar assim é desagradável, mas é preciso renunciar, obedecer a
voz de Deus. É difícil as vezes fazermos algo sem entender, como
que enchendo talhas de água quando na verdade precisamos de vinho.
Mas é preciso obedecer e cumprir o ide.
De repente, já
posicionado no deserto, Filipe vê chegando o eunuco lendo o profeta
Isaías e tudo começa a ficar claro. Imediatamente o Espírito Santo
o manda se aproximar, e o servo de Deus mais uma vez obedece. O
senhor opera grandiosamente, os dois começam a conversar e Filipe
evangeliza o eunuco. A mensagem chega tão profundamente ao seu
coração que, vendo ao pé de alguma água, o moço, cheio de sede
de Deus, pede pelo batismo. Valeu a pena ser obediente a Deus. Uma
alma foi salva, o céu está em festa!
Filipe foi arrebatado e
o deserto de luta, sofrimento, dúvidas, dificuldades, solidão
acabou. Eu entendo, ao meditar nesta linda história, que às vezes o
Senhor nos conduz a situações incompreensíveis para que possamos
fazer a Sua obra. Alguém no deserto precisa que o crente pregue o
Evangelho, e Deus faz de tudo para salvar uma alma. Alguém precisa
encher as talhas de água para que Jesus a transforme em vinho. O
mundo está sedento de Deus, os “evangelhos” de auto-ajuda estão
crescendo, a verdadeira mensagem está sendo desvirtuada por muitos e
o povo está repetindo a frase daquele homem: “Como poderei
entender, se alguém não me ensinar?” Buscam a Deus, mas buscam de
qualquer maneira, e não poderão compreender a verdadeira mensagem
se os Filipes dos últimos dias não estiverem dispostos a
ensinar-lhes, mesmo que para isso sofram dificuldades.
Se obedecermos,
renunciarmos, atendermos o chamado e amarmos as almas, não importa
se em Samaria ou no deserto, estaremos cumprindo o ide de Jesus e Ele
certamente suprirá todas as nossas necessidades.
"Eu
de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas
almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado"(2Co
12.15)
Pb.
Francisco Brito